Considerações sobre o G12

29-04-2011 12:47

 

1. Há no movimento elementos claramente divinos aos quais não temos atentado ou, nem mesmo percebido.

a.        O kerigma (proclamação) de Cristo, que nós temos dividido em kerigma para conversão (na porta do reino – At 2.22-36) e kerigma de edificação (para o já convertido – Rm 3 a 8; Ef 1 a 3, etc.), é dado nos chamados encontros de uma forma intensa. Ou seja, aquilo que consideramos como kerigma de edificação, é dado logo na conversão da pessoa, e até mesmo na pregação para que ela se converta. Isto nos parece bíblico e importante, pois encontramos esses elementos na pregação de Jesus, principalmente no evangelho de João (ver Jo 6.56-57; 7.37-39; 10.10 e outros).

b.        Também nos encontros, que hipoteticamente é feito para novos convertidos, ou para que as pessoas se convertam, há uma intensa confrontação com os pecados da pessoa, procurando leva-lo a considerar sua condição, sua vida de ofensa a Deus, e sua absoluta necessidade de perdão e reconciliação. Nós, historicamente, por considerarmos a realidade do "O PECADO", que é a rebelião e a independência do homem, buscando enfaticamente esclarecer o arrependimento como mudança de atitude interior, não temos dado a devida atenção a este tipo de confrontação. Procuramos mostras às pessoas a sua rebelião e necessidade de arrependimento, mas falamos pouco de seus pecados práticos e sua miserável condição diante de Deus, com a sua justa condenação, para que ela busque e se deleite no perdão de Deus.

c.        Um elemento muito interessante a considerar, é que o sacerdócio dos santos e seu serviço de fazer discípulos, são apoiados por uma programação de encontros que vai fazer toda uma "repregação" do evangelho. Ou seja, o novo convertido não vai ser alcançado apenas pelo trabalho daquele que o evangeliza (como nós temos feito). Há uma mobilização dos santos para fazer discípulos, mas também há um trabalho paralelo de alta intensidade (risco: que a conversão acabe se dando sempre nesses encontros e não no ministério diário dos irmãos: benefício: diminui a quantidade de conversões por assim dizer débeis, em razão de que alguns são deficientes em sua pregação). Cremos que este é um elemento que devemos analisar com maior cuidado e atenção.

d.        Somos gratos a Deus e aos irmãos por podermos observar estas coisas. Somos gratos a Cristo pelo seu corpo que é a igreja. Nós nos alegramos por poder estar aprendendo com estes irmãos.

 

2. Há também elementos divinos que nós conhecemos em teoria, mas que estes irmãos os têm praticado de forma mais intensa.

a.        A oração: Estamos impressionados e animados com o que temos ouvido a respeito da intensidade de oração entre aqueles que se envolvem com o movimento. Esta percepção tem nos contagiado e nos renovado nesta prática. Já desde antes de ter contato com o movimento, estávamos sendo sacudidos por Deus neste sentido, não apenas quanto à necessidade de ter maior disciplina e separar tempo mais definido para isto, mas principalmente quanto à questão do "andar no Espírito" e o "orar sem cessar". Os testemunhos que temos conhecido e ouvido nos tem servido de exemplo e de ânimo.

b.        O jejum: Eis uma prática que tivemos com boa intensidade no passado, mas que com o tempo foi quase que praticamente abandonada. O contato com o movimento nos despertou para voltarmos a ela. Já começamos a colher os benefícios disto.

 

3. Há elementos divinos que nós não apenas conhecemos, mas consideramos que nossa prática vai bastante além daquela que temos visto no movimento.

a.        Uma visão do sacerdócio de todos os santos

b.        Trabalho em grupos pequenos e nas casas

c.        Fazer discípulos e não juntar gente de qualquer forma

d.        Discipulado pelo relacionamento e exemplo e não como uma classe de estudos

e.        Discipulado com aplicação das escrituras às necessidades práticas do discípulo.

f.         Formação de líderes segundo o padrão e a forma do novo testamento.

g.        Muitos outros semelhantes. Não comentamos estes pontos com maior detalhe porque aquilo que nós já sabemos e vivemos não é o que mais nos interessa comentar, mas sim aquilo que temos que aprender.

h.        È necessário ressaltar que a comparação que fazemos diz respeito ao que temos visto em geral no Brasil, pois até o momento não estivemos em Bogotá, embora tenhamos recebido informes da parte de gente que vive lá e que faz uma análise semelhante à nossa.

 

4. Há ainda elementos que consideramos que não são divinos, mas sim humanos e até mesmo carnais.

a.        Primeiramente falamos daqueles elementos que consideramos que sejam de responsabilidade da própria liderança, e por ela criados ou por ela permitidos.

                                 i.            Aceitação do culto à personalidade. Este é um ranço humano habitual no meio evangélico, onde a expressão "a glória é para Jesus", é apenas um chavão. Sem a devida correção do hábito, esta expressão não passa de pretensa humildade e acaba se tornando, para os incautos, em mais um fator de admiração pessoal. Discípulos que estão com seu coração humilhado e desejosos de ver toda a glória para Jesus, abominam estas licenças. Isto se manifestou de forma escandalosa no encontro em São Paulo em julho/2000

                                ii.            Os livros do movimento contêm alguns elementos que não podemos aceitar. O primeiro é a motivação calcada no sucesso pessoal. Cremos que produzirá muito efeito, e fará muita gente trabalhar e produzir, mas não cremos que seja de acordo com o coração de Deus.

                              iii.            Há um outro elemento que vimos nos livros e que consideramos mais danoso e perigoso que o anterior. É um forte componente messiânico. O autor claramente fez um ótimo trabalho de compilação. Ele mesmo dá o crédito por ter aprendido muitas coisas com outros. E não cremos que foram poucos. Muitos dos princípios apresentados em seus livros são conhecidos e praticados por muita gente há muitos anos. Se ele captou bem e aplicou melhor algumas coisas, isto não o qualifica como o proclamador final da visão. Não adianta querer ensinar os irmãos a não serem arrogantes se achando donos da verdade, se a proposta contém tal dose de messianismo e presunção. O livro "Liderança de sucesso através dos 12" dá uma idéia de que o "modelo dos 12" é "A VISÃO" de Deus. Ou seja, o autor absorveu princípios, definiu um método sobre estes princípios, e agora propaga o seu método como se este fosse a única forma de praticar estes princípios. Cristalizou aquilo que chama de visão. E pior, deixa a entender que ele é o pai dela. A visão não pode ser um método estático. Um cristão que tem visão é aquele que conhece o coração de Deus, sua mente e seu propósito. Juntamente com isto deve conhecer também a sabedoria de Jesus em fazer a obra do Pai. Ele vai absorver do ministério de Jesus os princípios que entender que são absolutos, mas nunca vai absolutizar métodos e práticas. Sabemos que o autor tem insistido em dizer que os irmãos devem receber princípios, e aplaudimos isto, mas não é isto o que vemos no seu livro. Melhor do que pretender ter a palavra final sobre o assunto seria se manter em contato com aqueles que têm uma prática semelhante e buscar a cooperação mútua, para juntos seguirem aprendendo de Deus, uns com os outros, sem nunca cristalizar. Isto é a igreja. Um corpo vivo. A cristalização, infelizmente tem sido a tendência mais forte dos movimentos dados por Deus. Com ela se perde muito daquilo que o espírito Santo quer fazer.

                               iv.            Este messianismo se manifesta não apenas em livros, mas também em manifestações públicas como no encontro em São Paulo em julho de 2000. Nas mensagens e nas músicas há uma forte ênfase de que esta é a visão de Deus de multiplicação para a igreja para os últimos dias. Quem quiser estar na benção e se multiplicar, tem que estar nesta visão (se referindo ao modelo dos 12). Frase dita no encontro: "Este modelo vai ser o modelo que o mundo inteiro vai abraçar, porque é integral. Foi o que Deus me disse". Pergunta: Algo tão importante, Deus iria revelar somente a um homem? A história da igreja mostra que toda vez que um grupo se coloca neste espírito messiânico, este mesmo grupo se sente intocável e incontestável, não fazendo aferição na caminhada e nem se submetendo a outros ministérios. Este parágrafo (iv), foi retirado de uma análise feita por irmãos de São Paulo que foram ao referido encontro. Eles também apontaram como polêmicos os seguintes fatos: (1) A idéia de "clonar" o modelo sem adaptar – (2) A idéia de que o encontro produz santificação instantânea – (3) Ênfase desmedida no número 12 – (4) A pretensão de formar líderes em 9 meses.

                                v.            Outro elemento questionável é, a sobrevalorização dos números. Não sabemos se em Bogotá é assim, mas aqui no Brasil está sendo. Não que não creiamos em multiplicação, mas o enfoque bíblico é diferente daquele que temos observado. Se não vejamos.

1.        O fator número se torna mais importante do que fator vida. É super valorizado porque é o que dá status e reconhecimento ao pastor.

2.        Conhecemos o testemunho de um irmão que está há anos em uma congregação que pratica o chamado modelo dos 12. Este mesmo irmão, ao estar com uma igreja em outra cidade, que procura viver os princípios do reino de Deus e fazer discípulos, e ao ver a efetividade do relacionamento e o amor e santidade dos irmãos, mostrou-se surpreso e perguntou se em sua cidade não havia um trabalho semelhante para que pudesse participar. Ele disse que a igreja onde está "se tornou uma massa de gente sem relacionamento, sem vínculos e sem pastoreio das vidas".

b.        Há também, outros elementos negativos que não sabemos até que ponto são de responsabilidade da liderança, ou se apenas da liderança do movimento no Brasil, ou se dos pastores que os seguem.

                                 i.            Muitos pastores no Brasil não estão captando uma visão integral, mas apenas entusiasmados com o encontro. São pastores que sempre enxergaram uma forma massiva de fazer a obra, e descobriram no movimento uma novidade quanto à forma de fazer as reuniões. Conhecemos alguns que antigamente até tentaram fazer discípulos, mas quando sentiram como "relacionamento e ensino pelo exemplo" demandava uma dedicação, tempo e inteireza de propósito maior do que a que tinham, logo desistiram. Muitos destes estão abraçando aquilo que sempre foi muito peculiar ao seu ministério. Ou seja: reuniões, muita gente, púlpito, pregações, etc., e nunca vão sair disto.

                                ii.            Muitos que estão captando uma visão mais ampla estão abraçando não uma visão, mas um sistema. Infelizmente muita gente não sabe a diferença entre estes dois. A primeira é dinâmica, flexível e requer constante guia do Espírito Santo. O segundo é estático, fechado e baseado mais em fórmulas e manuais do que na orientação divina.

                              iii.            Algumas doutrinas ou ensinamentos não foram devidamente avaliados e requerem maior cuidado. Uma das ênfases do encontro é a "cura interior". O ensino contém um pacote de verdades importantíssimas (como a confissão de pecados e a liberação de qualquer forma de amargura através do perdão) misturados com outros ingredientes que deveriam ser mais bem analisados à luz da Palavra de Deus (como maldições, operação demoníaca, etc.).

                               iv.            Nos encontros no Brasil, há muita técnica psicológica e procura-se mexer muito com a alma, as emoções. Tudo é feito com muita manivela.

Apontar estes problemas, não significa que desconsideramos o movimento como um todo. Pelo contrário, seguimos crendo que a mão de Deus tem estado por trás dele, nos alegramos com os frutos que estão sendo produzidos e queremos incentivar aqueles que têm descoberto mais de Deus neste movimento a prosseguirem. Certamente este movimento traz à igreja evangélica muito mais de Deus do que ela em geral tem experimentado.

 

5. Por fim, queremos dizer algo sobre alguns elementos divinos fundamentais que nos parecem estar faltando no movimento.

a.        Um movimento que pretenda estar restaurando uma visão de fazer discípulos necessita fundamentalmente de que este discipulado comece na vida dos pastores. Há centenas de pastores que nunca foram pastoreados, ensinados, amados, acompanhados, compreendidos, repreendidos. Por isso sofrem todo tipo de circunstâncias desabonadoras, condutas impróprias, faltas de caráter, desagregação das famílias, vaidades, descumprimento, deslealdades, maledicências, iras, divisões carnais, competições infantis, mau uso de autoridade, autoritarismo, frouxidão, permissividade, instabilidade de propósitos, etc., etc. Antes que possam fazer discípulos necessitam eles mesmos serem discipulados. E isto não se faz da noite para o dia. Cremos que as bases do movimento entendem e querem isto, mas isto requer a restauração de um verdadeiro ministério apostólico que se constitua em um real pastoreio de pastores. Obviamente o movimento cresceu muito rápido no Brasil e não houve tempo para o surgimento destes vínculos. Como resultado, há centenas de pastores que vão querer fazer discípulos sem serem cuidados por outros e vão se reproduzir segundo a sua própria espécie.

b.        Cremos que também falta ao movimento aquela realidade fundamental para a restauração da igreja: uma clara visão do propósito eterno de Deus. No livro do Castellanos a definição do propósito de Deus não está clara e nos parece que está muito aquém daquilo que o Senhor nos tem revelado. Obviamente, isto é um dos fatores que provoca os elementos carnais citados acima.

 

Conclusão

Muitos amigos têm nos perguntado se nós pretendemos "adotar" a visão. Se agora vamos aplicar o "modelo dos 12". Pensamos que nossa postura pode ser compreendida pelo que escrevemos acima e pelo que segue:

Entendemos, como descrevemos no terceiro ponto, que a maior parte dos princípios que regem o movimento, nós os conhecemos e os praticamos há muitos anos. Não necessitamos, para vivê-los, incorporar um sistema ou adotar uma metodologia. Em todos estes anos temos nos esforçado para não implantar um "sistema" nosso a fim de poder continuar sendo guiados pelo Espírito Santo. Temos tido este cuidado em nosso ministério extralocal velando para que os irmãos realmente recebam princípios e não um sistema que usamos em nossa cidade. Acompanhamos estas igrejas com muito cuidado, buscando que esta seja a realidade deles. Acompanhamos os passos da transição e a implantação de igrejas nas casas, cuidando para que cada um descubra as nuances de cada localidade. Nunca escrevemos um manual para isto. Sempre optamos pelo acompanhamento pessoal ainda que este seja muito aquém do que gostaríamos. Nunca quisemos exportar um sistema e não será agora que vamos importá-lo.

Analisar o movimento com todo cuidado e oração, foi muito útil para nós, como dissemos no primeiro e no segundo ponto.

Queremos se possível nos manter em contato com o movimento para aprender e se possível cooperar.

É verdade que o movimento nos chama a atenção pelo resultado em números, mas não somos tomados pela febre do "esta é a fórmula" que acomete a muitos. Na maioria dos casos que temos conhecido, ainda que haja uma viva manifestação de espiritualidade, desejo de oração e pregação do evangelho, permanece uma fraca visão de santificação. Há uma pregação de santidade, mas não há modelos e não há ensino claro. Muitos jovens "fazem o encontro" e saem cheios de fervor, mas seguem com suas impurezas, seus namoros, etc. Estas coisas nunca vão ser devidamente ensinadas com pré-encontros, encontros e pós-encontros. Não há uma maneira rápida de fazer a obra de Deus. Fazer discípulos requer primeiramente discípulos que sejam modelo. Em segundo lugar requer tempo, dedicação, oração, sofrimento, dores de parto e novamente tempo. Não há fórmula que elimine isto. Os evangélicos estão sempre atrás disso. A busca frenética pelo crescimento rápido vai sempre resultar em massificação sem santidade. Alguns estão entusiasmados com "fazer discípulos" mas nunca fizeram. Vão querer fazer discípulos mantendo muito dos velhos paradigmas e vão ter muito sucesso (em números) e frustrações quanto à qualidade.

Ainda que não na mesma intensidade, temos multiplicado discípulos em nossa cidade e muitas outras do Brasil. Confiamos que o Senhor vai nos levar adiante.

As coisas que temos aprendido com estes irmãos vão cooperar com isto. Se eles não fossem tão ciosos daquilo que estão praticando, bem que poderíamos cooperar com eles também, pois o corpo é de Cristo. Mas nem todos têm este entendimento.